Visite a Fan Page no Facebook

O Pera Music é uma vertente do Portal Pera que busca os melhores vídeos de música da internet para seus seguidores! Aberto a pedidos de opiniões o Pera Music vai sempre ter o seu foco na música de qualidade.




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Imaginação pode ser a solução: História de Robert Johnson


Robert Johnson. (Foto: http://3.bp.blogspot.com)




A data é 11 de agosto de 1938. Na cidade de Greenwood, no estado do Mississipi, o povo aguarda a presença do homem que dizem ter vendido sua alma ao diabo. O ruído do trem aumenta conforme ele se aproxima da estação. A antecipação de alguns moradores acompanha o volume do barulho que ressoa do trem.

Muitos temem a presença deste homem, muitos admiram a sua música. Algo estranho paira no ar, enquanto pessoas aguardam a chegada do homem misterioso na própria estação de trem. Um último suspiro vindo dos freios do trem marca a parada total nos trilhos. Jovens, adultos, homens e mulheres desembarcam na cidade. Porém, aquele que era aguardado com temor de uns e admiração de outros não desceu de nenhum dos vagões.

O bar “Three Forks” já anunciou o concerto deste artista “infernal”. Ao passear pela rua é possível ouvir alguns comentando: “ele toca de costas para o público, para não mostrar o olhar demoníaco que surge para ajudá-lo”. Muito é dito, boatos são contagiosos como a gripe, mas a única certeza que todos tinham é que o gaitista Sonny Boy Williamson acompanhará o artista que dizem ser associado a Lúcifer.

O trem que deveria trazê-lo já chegou, todos desembarcaram, mas o guitarrista não desceu. Este fato fez grande parte da população local imaginar diversas histórias do que poderia ter ocorrido: “Será que o demônio finalmente cobrou sua dívida?”

Apenas o jovem Sonny sabia o paradeiro dele, mas resolveu não contar a ninguém. Todo aquele alarde foi dando visibilidade ao show, enquanto todos imaginavam quando o guitarrista chegaria, ele se escondia na cama de uma mulher casada na parte sul da cidade.

Em poucos dias, eles tocariam no bar Three Forks e com tantos boatos sobre o bluesman, que gravara algumas músicas em 1936 e 1937, o show ficaria lotado. Estas canções teriam sido gravadas com um dom oferecido a ele diretamente pelo Satanás, em uma encruzilhada da Highway 61 com a Highway 49. Ele portava seu violão, esperou até um pouco antes da meia-noite. Quando o relógio ficou com os ponteiros juntos no número 12, o Diabo surgiu e tocou-lhe o ombro. Ele sabia que era importante não olhar para o Demônio, que pegou seu violão, tocou algumas músicas e devolveu o instrumento. Com este simples gesto o acordo foi feito.

Finalmente chegou o dia do concerto e muitos da cidade estão animados, muitos estão apavorados e todos aguardam por algo diferente. O bar está lotado, Sonny aguarda a presença do polêmico guitarrista olhando para as pessoas presentes no Three Forks. Sua atenção está em um homem de aparência bruta, suado e com cara de poucos amigos. Aquele homem não lhe é estranho.

Robert Johnson entra no bar, segurando seu violão na mão esquerda. Ele pede um uísque para o barman e olha ao redor. Rapidamente percebeu que o olhar de todos está voltado para o bar de madeira antiga onde está sentado. Ele termina seu uísque e chama seu amigo Sonny Boy Willamson para começar a tocar.

Após três músicas, Sonny repara que aquele homem de aparência bruta, que chamou sua atenção antes do show, despejou algo na bebida de Robert e tenta avisá-lo. Porém, Johnson não lhe dá ouvidos e toma o drink envenenado.

Três dias depois da intoxicação descobriram que o homem que o envenenou era marido da mulher que Robert dormiu alguns dias antes da apresentação. Johnson se recuperou do envenenamento, mas com o corpo debilitado acabou falecendo de uma pneumonia. Era o fim do mestre do blues que diziam ter vendido a alma ao Belzebú.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Diário de um jornalista de São Paulo: O Show do Trombone


Bocato em apresentação com seu trombone. (Foto: marcelocostaphotos.blogspot.com)



Em uma noite de quente de verão, na cidade de São Paulo, teve início uma busca de informações sobre um grande músico brasileiro. Eu caminhava pela Vila Olímpia em direção a uma sala de aula onde deveria acontecer o primeiro atendimento de grupo do Trabalho de Conclusão de Curso da minha empreitada para me tornar um jornalista.



Ao entrar na sala, percebi que os grupos para o TCC já haviam sido formados e eu ficara de fora de todos eles. Um tanto quanto chateado e me sentindo “persona non grata” da classe, tentei procurar se havia alguém na mesma situação. Reparei que um jovem publicitário que resolveu virar jornalista havia ficado de fora desta seleção de grupos e pensei “estamos no mesmo barco”.

Já éramos amigos e não demorou muito para que este jovem aceitasse formar o grupo de trabalho comigo. O nome dele era Renato, um japonês de características únicas, conversava com todos, era muito animado e sempre tinha um tom cômico em suas frases.

Ainda meio perdido e sem saber o tema do nosso trabalho, encontrei outro amigo que também havia sido deixado de lado das “panelas” da classe. Um fato que realmente me deixou surpreso, pois este jovem sempre me pareceu uma das pessoas mais populares da Universidade. Ele sempre conversava com todos os tipos de pessoas, todos o conheciam desde o início das aulas, diferentemente do meu caso e do Renato que entramos na classe fazia apenas um ano ou pouco mais que isso. Há pouco tempo ele havia retornado de um intercâmbio do México, seu nome era Bruno, porém pelo fato de ser recém chegado ao Brasil vindo da cidade do México o apelidamos de Mexicano.

Perguntei discretamente se ele estava sem grupo e se gostaria de formar um trio. O Mexicano aceitou sem titubear, já demonstrando muita empolgação apresentou suas idéias para o tema da matéria que escreveríamos futuramente. Uma das idéias apresentadas pelo colega foi escrever uma Reportagem de Perfil sobre o baixista Celso Pixinga. A idéia era muito boa, todos nós gostávamos de música e seria um trabalho divertido de fazer. Já imaginávamos as entrevistas, os shows e o ambiente que viveríamos no ano de 2010.

Nosso orientador gostou da idéia do perfil sobre algum artista, mas ainda não estava convencido se o Celso Pixinga era a melhor opção para a reportagem. Pensamos rapidamente no nome de Hermeto Paschoal, mas como não tínhamos certeza de como entrar em contato e nem seu estado de saúde na época, deixamos essa idéia de lado. Após um brainstorming de duas ou três horas, ouvi o orientador comentar “E o Bocato?”

Essa simples frase foi o bastante para que minha mente me levasse à última apresentação que havia presenciado deste mestre da música instrumental brasileira. Lembrei de uma época triste, foi o dia em que o mundo da música perdeu o melhor baterista que eu já vi tocando, o espetacular Gigante Brasil.

Ele era uma pessoa maravilhosa, sempre sorridente, um indivíduo que marcou pela irreverência, estilo inigualável e um coração que abrigava o mundo todo. Grandes músicos prestavam suas homenagens ao Gigante,quando Bocato subiu ao palco com tristeza no olhar, cabisbaixo e sereno começou a soltar notas que misturavam o seu toque jazzado com uma dor que transbordava de sua alma. A imagem que Itacyr Bocato Jr. me passava era de um homem que havia perdido seu irmão naquele dia, um homem com um espaço vazio em seu peito que nunca mais seria preenchido.

Após esse flash back que a minha mente aprontou, fiquei empolgado com a chance de conhecer melhor este músico que havia me impressionado tanto em um momento tão trágico. A orientadora de outro grupo ouviu nossa conversa e comentou que havia assistido uma apresentação do Bocato no dia anterior em um bar chamado Kabul.

Estava decidido. Bocato seria o tema para nosso TCC.

Só esquecemos de um simples detalhe, ele ainda não tinha aceitado o fardo de ser perseguido e interrogado por jovens jornalistas apaixonados por música. Dúvidas pairavam sobre a mente dos três integrantes do grupo. Será que ele vai topar? Como ele deve ser pessoalmente? Será que vai ser simpático?

As dúvidas estariam todas esclarecidas em uma semana, quando marcamos de encontrar com o trombonista no bar mencionado pela professora.

Chegou o dia tão esperado, iríamos conhecer o grande mestre do trombone. Para tentar bater um papo descontraído com Bocato, chegamos ao bar e logo procuramos o gerente, que se prontificou a disponibilizar cinco minutos para conversarmos com o artista.

Quando observei o ambiente foi fácil perceber que o bar iria esquentar com o som do trombonista, pois muitos já estavam aguardando ansiosamente a presença do maestro. Quando o mesmo mostrou sua face inconfundível na porta de entrada fiquei travado e tenso. Ele passeou um pouco, cumprimentou algumas pessoas e subiu para uma salinha reservada para os músicos.

O gerente subiu logo atrás para perguntar se ele nos receberia. Logo desceu e nos informou que o Bocato havia aceitado nos receber. Subimos as escadas com um ar de tensão e medo, mas encontramos um artista calmo e relaxado, tomando seu cafezinho sentado no sofá. Recebeu-nos com muita simpatia, com um grande sorriso no rosto. Isso me acalmou e olhei meus companheiros abaixando a guarda também.

O primeiro a falar foi o japonês, que foi explicando a nossa idéia para o futuro Tema do nosso TCC. Após algumas palavras do Renato, o mexicano continuou a conversar e contar o tínhamos em mente. Me senti travado, estava com a perna bamba e engasgado, não saía uma palavra da minha boca. Talvez por ser um fã, não conseguia me expressar direito. Mas comentei que já havia visto algumas de suas apresentações e que era um grande fã do seu trabalho.

Bocato aceitou nos ajudar neste projeto assim que paramos de tagarelar. Ele soltou um sorriso e percebeu a ansiedade que brotava daquele grupo de futuros jornalistas.

Posso dizer que após um ano seguindo e entrevistando este mestre, aprendi realmente o que é ser jornalista. Ao explorar cada canto da vida de uma pessoa e perceber que aquele seu ídolo é um ser humano e que ele tem problemas como qualquer outra pessoa, me ajudou a crescer muito.

Bocato é um ser humano maravilhoso, engraçado e absurdamente inteligente. Mostrou para nós três os valores da vida, a luta em busca do que você realmente quer e a força que o ser humano tem dentro de si.

Obrigado Itacyr Bocato Jr. pela inspiração de vida que você foi para estes jovens jornalistas!

Assista ao trecho do show instrumental de Bocato no SESC em 2010:


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Liga dos Músicos Marginalizados versus A Legião da Mídia Mesquinha


Zona Blues. (Foto: http://mpbluestrio.blogspot.com/)

Seguir o caminho da arte é algo trabalhoso e pode levar à falência. Um músico que tem um dom para determinado instrumento pode se apresentar em bares da nossa capital, mas será obrigado a conviver diariamente com tudo de bom e ruim que a noite paulistana oferece.



É difícil enfiar a mão no bolso, abrir a carteira e perceber que ela está vazia. Ao mesmo tempo olhar ao redor e ver a quantidade de pessoas que gastam dinheiro se embebedando e se empanturrando nos barzinhos, enquanto aquele pobre artista, que faz muito bem seu trabalho e não é reconhecido, continua com seu instrumento surrado e é obrigado a guardar seus centavos para pagar as contas.

O que passa na mente de um músico que percebe que a sua carreira ficou estagnada no submundo das apresentações de música? Como se sente uma pessoa que tem talento, que respira arte e é obrigado a presenciar essa piada de mau gosto que é a mídia avarenta?

O verdadeiro artista sofre um castigo diário ao ser obrigado a ver pessoas totalmente sem talento fazendo sucesso e ganhando rios de dinheiro por músicas sem conteúdo, sem um arranjo bem feito, sem uma letra bem trabalhada.

Músicos fabricados em “laboratório” são lançados por todo o país enquanto jovens que demonstram talento e aptidão na música ficam marginalizados. Estes marginais da arte poderiam se tornar instrumentistas famosos em todo o mundo, mas sem um incentivo real este sonho sempre será inviável.

É triste ver que o país que uma vez já exportou nomes como Carmen Miranda, Tom Jobim, Baden Powell e Raul de Souza, hoje é conhecido no exterior por Michel Teló.

Seria cômico se não fosse trágico.

Assista a este vídeo da banda Zona Blues que toca em Bares e Pubs de São Paulo, mas tem talento o bastante para lotar um estádio de futebol! Confira, aprecie e divulgue o trabalho destes artistas maravilhosos.